sexta-feira, 13 de março de 2009

Os Velórios nos Velhos Tempos.

Morrer naquela época fazia medo até mesmo no defunto. Levava-se o morto para uma sala bem grande, deitava-o no estrado da cama; as suas mãos e pés bem amarrados; um outro pano no pescoço até na cabeça para a boca não abrir; chumaço de algodão nas ventas do nariz e na boca. Pés descalços e a gente ainda tinha de beijar.
As pessoas em volta gritavam a plenos pulmões; velas enormes, cravos de defunto exalando cheiro forte para todos os lados.
Só sei dizer que ir a um velório não era para qualquer um não. Mamãe adorava fazer medo: “se fizerem alguma arte levo vocês para beijar os pés do defunto”.
Misericórdia! A hora que o sino anunciava um falecimento era o melhor sonífero: toda criançada levada ia dormir.
Enquanto o defunto era velado, o caixão fraco e roxo encomendado. O semblante do morto era observado cuidadosamente para verificar se ele havia morrido mesmo: colocava-se um espelho pertinho da boca, se ficasse embaçado estava vivo; se saísse uma lágrima, o defunto, tinha arrependido e ia para o céu.

O velório nos dias de hoje
Ninguém da família precisa se preocupar com o defunto:
A funerária São Francisco cuida de todo o aparato

1 – Maquiagem - todo defunto fica bonito
2 – Vestuário - o mais elegante possível; tudo nos trinques; até o sapato é engraxado; meias combinando; gravata e prendedor, etc.
3 – a nota de falecimento é feita por carro sonoro percorrendo todas as ruas da cidade
4 – Lanche completo e farto.
5 – O defunto é velado no Velório Municipal bem perto do cemitério. Todo mundo fica na maior comodidade. Não tem nenhuma crise de histerismo.
6 – Caso precise festival de choro é só contratar o serviço das carpideiras.
7 – A ornamentação do velório é chiquérrima: flores: flores perfumando todo ambiente, ar refrigerado, poltronas macias e aconchegantes, castiçais de ouro e prata.
8 – Acompanhar o enterro já não é mais tão desgastante. Num pulo só a gente o leva até a cova. A única diferença é se o mesmo vai para a cobertura ou fica no térreo.
9 – Ao invés daquela cantiga mais triste: “segura na mão de Deus... segura”, agora é canta-se assim: “vai com jeito vai... se bobear não entra mais...” (o preço do m2 está muito caro e nesta época de crise, é melhor economizar...).
10 – Depois de tudo isso é só descansar em paz (apesar do aperto)
11 - Hoje já não se fala mais caixão: é urna. Madeira de lei, cheia de argolas pesadas e reluzentes, almofada, refrigerada com ligação externa para celular (comunicação com a terra caso seja enterrado vivo).

Telinha Castro.

Um comentário:

  1. Telinha foi bom vc enformar sobre o velorio antigo e o de hoje agente morre mais tranquilo né beijos Ione

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