domingo, 8 de março de 2009
A "Muxiba" Secou.
Será que com esta forte onde de calor não seria bom voltar ao uso comunitário da Muxiba?
Não se lembram dela, evidentemente, não é mesmo?
A crônica escrita por Clélia Souto nos trará de volta aos velhos tempos da “Muxiba”...
A "Muxiba" secou.
Você deve achar ate cômico o nome que se dava a uma mangueira de borracha, muito larga, molenga, escura, de aspecto feio e desengonçada que havia em algumas estações ferroviárias , onde o trem de fero passava para abastecer de água – “a muxiba”.
Ali, naquele local, o trem de ferro parava para beber água e depois de saciar a sede, virava-se a ponta da “muxiba” para cima ou fechava-se o registro para água para de correr.
Depois de engatados os vagões, seguia viagem, andando pelos trilhos, soltando fumaça, apitando, tocando os sinos, deixando para trás as pessoas que aos poucos desapreciam nas curvas da estrada, pois o trem já não era mais visto, ficando só a lembrança de sua passagem.
Houve uma época, meados de 1955, ate surgir a “Copasa” em 1966, a cidade vivia no seco e a água faltava muito. As pessoas tinham que sair a sua procura em qualquer lugar.
Para se beber, buscávamos água na mina, perto da “Chácara dos Brandões”; chamava-se “biquinha”. Para banho, lavar as vasilhas e roupas, a população que morava próxima à estação, apelava-se para a “muxiba”.
Era uma festa...ninguém tinha o privilegio de ter água em casa, por isso a salvação era mesmo “roubar água” água do trem de ferro.
As mulheres, homens, crianças armavam-se de vasilhas do tamanho que suportavam o peso e iam para a estação.
Não podiam furar a fila, quem chegasse primeiro, pegava a água primeiro, mas as mulheres, principalmente, brigavam, rolavam no chão, agarravam –se nos cabelos, uma da outra, e a torcida gritava: “arranca os cabelos dela...”
Certo dia a fila estava grande... cada pessoa enchia a sua vasilha e saia com a lata na cabeça, quando eram aquelas latas chamadas: de “querosene”. As mulheres faziam uma rodilha de pano, colocavam na cabeça e a lata dágua por cima. Um dia, uma se espantou com o trem que chegava. Assim que apitou e a mulher desequilibrou e ela caiu para um lado e a lata dágua caiu pro outro. O pior é que as três que vinham atrás dela, se assustaram , começaram a rebolar para equilibrar a lata na cabeça, mas foi tudo em vão. Ao invés de uma ter perdido a água foram quatro que tiveram que encher a lata novamente na “muxiba”.
Eu estava na fila quando tudo aconteceu. Chegou a minha vez de pegar um baldinho dágua. Era novinha, não tinha força para carregar uma lata na cabeça, por isso me contentava em carregar na mão um baldinho.
Coloquei o balde na boca da “muxiba”. A água começou a sair e parou. Arranjei uma vara, enfiei-a pela boca da “muxiba” até o fim. A água voltou, mas, primeiro, saiu um sapo enorme pulando nas pernas das mulheres que gritavam e saiam correndo.
Foi um verdadeiro circo... eu nunca mais busquei água lá. Os tempos mudaram e os trens de ferro a vapor deram lugar ao “óleo diesel”.
Depois de alguns anos, chegou para a nossa alegria, a “Copasa”. Acabou-se o racionamento. Água com fartura e bem limpinha. O trem de ferro que, antigamente, era nossa alegria, hoje tornou-se empecilho para carros e transeuntes que não conseguem atravessar os trilhos. Os sonhos de outrora ficaram nas lembranças e quem sabe um dia ainda vamos encher a praça de pessoas para esperar o trem passar...!!!
Clélia Souto
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Eu não sou dessa Època ,Ja o seu irmão!!!!!!!!
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